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As dinâmicas de ocupação do território brasileiro

   O sentido e a lógica de ocupação do território brasileiro teve a influência de aspectos naturais, técnicos e econômicos. Dentre os aspectos naturais e técnicos, podemos destacar que pelo fato de as caravelas serem, basicamente - naquele período - o único meio de transporte para viagens intercontinentais, um fator determinante para a definição da chegada dos portugueses pelo litoral da costa leste da América do Sul, nesse sentido, fica bastante claro que a ocupação a partir do litoral apresenta uma influência total do meio de transporte utilizado e o posicionamento geográfico tanto de Portugal quanto do território que daria origem ao Brasil.
   Da mesma forma em que o Brasil tem sua gênese a partir do litoral, todas as colônias europeias também surgem a partir do litoral, como destacado no parágrafo anterior, devido ao tipo de transporte utilizado. Porém, em muitos casos pôde-se perceber uma forte tendência de interiorização desses territórios, como no caso dos EUA onde esse processo foi tão intenso que os fizeram chegar até o Pacífico. Mas no caso do Brasil, embora a interiorização tenha acontecido, principalmente para buscar ouro e escravos fugitivos, a nossa interiorização tem uma característica mais voltada para a dominação territorial por parte da Coroa Portuguesa, sem a efetiva ocupação dessas regiões interioranas.
   Os ciclos econômicos que se desenvolveram, ao longo dos séculos, no território brasileiro foram de extrema importância para a definição de quais seriam as regiões de atração populacional e, consequentemente, quais seriam as regiões sem nenhum tipo de atratividade e que se tornariam, automaticamente, regiões de repulsão populacional. Curiosamente, mas em especial devido às condições climáticas e de disponibilidade de recursos minerais, os principais ciclos econômicos do país se desenvolveram em uma faixa de até 500 km do litoral em direção ao interior do território, e não por coincidência, essa é até hoje a região de maior concentração populacional do país. O Nordeste se destacou pelo desenvolvimento do ciclo da cana-de-açúcar, o atual estado de MG se destacou pela disponibilidade de ouro – ciclo econômico que fez o estado prosperar em um determinado período – o ciclo do café que por questões de características de solo se desenvolveu no oeste do estado de São Paulo e a escolha do RJ para ser, por um período, a capital nacional, fizeram do *litoral brasileiro a região que concentrou os maiores investimentos, o foco dos interesses governamentais e a região de maior atratividade.
   Após a crise de 1929 o Brasil se vê obrigado a se industrializar, pois seus principais fornecedores de produtos industrializados e compradores de café estavam quebrados, sendo necessário que os mesmos encerrassem as relações comercias internacionais visando uma restruturação interna. A localização industrial inicial se apresenta exatamente na região sudeste, entre o eixo RJ/SP devido às heranças portuárias e cafeeiras dos respectivos estados e devido à presença de uma estrutura de transporte, disponibilidade de mão de obra e capital presente nessas regiões. Portanto, podemos afirmar que pelo fato de a indústria ter chegado ao Brasil no momento em que o Sudeste estava no auge, seria inevitável que a mesma se desenvolvesse nessa região, de modo que esse processo tornou essa região ainda mais importante e com maior atratividade, gerando um intenso crescimento urbano e prosperidade econômica, criando uma desigualdade sem precedentes entre as regiões do país.

*Neste caso, entende-se por litoral uma faixa de até 500km em relação à costa.

Eduardo Correia
Graduado em Geografia

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